Nessas ocasiões me divertia com traques (aqueles pequenos explosivos em formato de fósforo). Eu juntava algumas caixas, amarrava tudo com fita e formava uma bomba arredondada. A sequência de explosões sempre chamava a atenção de toda a rua. Vinha moleque de todo canto assistir ao "espetáculo".
No dia daquele Fla-Flu eu estava com uma bomba de traques na mão.
O Flamengo comemorava seu primeiro centenário. Eu tinha 14 anos. Vivia a primeira grande temporada como torcedor, acompanhando 100% dos jogos e vestindo a 11 do baixinho Romário, eleito o melhor do mundo.
Assisti ao jogo num barzinho na esquina da minha casa. Como sempre o lugar estava lotado. Muitos flamenguistas. Mas quem assiste jogos dessa maneira deve se preparar para os espíritos de porco. E naquele dia eles eram muitos.
O Fla-Flu começou com muita chuva. O Fluminense sempre melhor, tendo feito 2 a 0. Na raça o Flamengo melhorou e faltando poucos minutos conseguiu empatar. O resultado dava o título ao rubro-negro. Mas aos 42 do segundo tempo, Renato Gaúcho, de barriga, fez o gol tricolor. Tragédia.
Até então Renato Gaúcho era meu grande ídolo. Eu tinha pôster, fotos, camisas, até o nome dele pintado no poste em frente minha casa. Mas aquele gol acabou com tudo. Era o desfecho trágico de uma história sem fim. Lembro de tudo, até do Renato ajoelhado dizendo: "Não estou rezando, estou procurando o futebol do Romário".
Mas o clássico não é só tristeza. Ano passado mesmo tivemos uma vitória histórica do Flamengo por 5 a 3 de virada e com dois jogadores a menos. Coisas assim só acontecem num Fla-Flu.
Ah, o pessoal da rua explodiu a bomba de traques. Mesmo com a derrota, seria um desperdício cancelar o espetáculo explosivo. Depois daquele dia nunca mais brinquei com fogo.