Para completar transcrevo o texto de LucasDL, postador originalmente no blog OleOle.
Eu nem deveria perder meu tempo escrevendo essas linhas. Mas infelizmente, vivo num país que prefere sempre escolher o absurdo, ao invés de ver o óbvio. Não me importo com a opinião das pessoas, nem todas têm acesso aos fatos, mas mesmo os que possuem, se negam a aceitar o que é certo, em detrimento de rixas idiotas. Preferem posar de ignorantes. Mas isso no Brasil, apenas. Em qualquer lugar do mundo, não se discutiria a validade do gol 1000, se Zico foi craque mesmo sem ter vencido Copa do Mundo, quem foi melhor, Pelé ou Maradona e quem é o campeão nacional, o da primeira divisão, ou um apanhado político. Só no Brasil.
Mas antes de explicar 1987, voltemos a 1986.
A falida e ridicularizada CBF acabara de organizar um campeonato brasileiro com nada menos do que 80 clubes. Oitenta. Talvez a FA CUP tenha algo próximo a isso. Dentre os times participantes, esquadrões poderosos como Sampaio Corrêa, Rio Branco, Alecrim e CSA. O campeonato de tão absurdo, terminou em 1987. Ao final, com méritos, claro, o São Paulo se sagrou campeão ao vencer o Guarani e estavam classificados para o Brasileirão 87, nada menos do que 30 times. Pelo regulamento, o Botafogo, 32º colocado, estaria fora.
O campeonato foi um fracasso de público. A prática da política de Arena não funcionava mais. O povo queria um campeonato digno e mais simples. Não havia mais investidores para bancar esse circo com quase 100 times. Quem se lembra da época, houve o risco real de não termos campeonato brasileiro em 1987. Diante de tal ameaça, os treze maiores clubes do Brasil, liderados pelo Presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, correram atrás de patrocínio e organizaram o seu próprio campeonato. A Varig bancaria as viagens, a Globo garantiria as transmissões e uam rede de hotéis, confesso me escapar o nome, daria as hospedagens. Tudo isso porque havia confiança no produto. É claro que vão dizer "Globo", "Varig", "isso é sériedade?". Na falta de argumentos, tentam tudo.
O consenso determinou que 16 clubes era o número ideal para compor o campeonato e assim convidaram três para completar a lista. A CBF, cujas más administrações a tornava a única responsável pela caótica situação, não se opôs a que o campeonato dos dezesseis substituísse a antiga fórmula do Campeonato Brasileiro. Leiam bem: NÃO SE OPÔS.
Era a maior revolução do futebol brasileiro em todos os tempos. Um campeonato rápido, certo e com os grandes times do Brasil. Uma liga nos moldes que hoje são os campeonatos inglês, alemão e italiano. Os clubes controlam o futebol. Mas aqui é Brasil.
Vendo o enorme sucesso de público e crítica que a Copa União estava obtendo, com jogos lotados, horários decentes e futebol de primeira linha, a CBF sentiu que chegou a hora de atrapalhar. Comandada por Otávio Pinto Guimarães e Nabi Abi Chedid, de longe os piores dirigentes que essa empresa já possuiu, nada ganharam, tudo destruíram, foi inventado um cruzamento patético entre o campeão da segunda divisão e o da primeira. Um detalhe: não havia ainda, nem uma segunda divisão jogando. Ela seria criada e empurrada goela abaixo, por clubes que ficaram de fora do campeonato. É claro que a CBF tinha seus interesses políticos, tais quais hoje os tem Eurico Miranda quando quer um estadual do Rio com 75 times, um autêntico Fut-Bairros. A CBF criou os módulos. A CBF criou os cruzamentos. A CBF, que quase quebrou o futebol brasileiro e abriu mão da organização do campeonato não participando em NADA na criação das regras e regulamento, agora queria entrar de qualquer jeito na festa.
Com o campeonato já em andamento e muito antes de qualquer final ter sequer sido desenhada, o Clube dos 13, de forma unânime, rejeitou a proposta e seguiu seu caminho. Isso, ainda na primeira fase da Copa União. Para os clubes grandes do país, o campeão nacional seria o vencedor da Copa União, a copa que reunia os melhores. Em qualquer país sério, isso bastaria para que fosse considerado o campeão nacional. Mas não no Brasil. Ou, pelo menos, não naquele Brasil de Sarney, de Otávio e de Nabi.
Com a Copa União se afunilando, a pressão da CBF aumentou, mas o Clube dos 13, novamente de forma UNÂNIME, disse não. Não aceitaria participar desse disparate.
E deu-se no dia 13 de dezembro de 1987, debaixo de um dilúvio bíblico no Rio de Janeiro, a decisão entre Flamengo e Internacional, perante 95 mil pessoas no Maracanã, e outras milhões espalhadas Brasil afora. A final que a TV transmitiu. Que o mundo noticiou. Que o Fantástico ilustrou para abrir sua edição daquele dia, com o hino do campeão. A final que honra a luta dos clubes pelo futebol sério, pelo menos naquele ano. A final de um campeonato que poderia ter mudado o futebol brasileiro, com o apoio moral de todas as maiores torcidas do país. Enquanto isso...
O Guarani venceu o Sport por 2x0. Alguém aqui se lembra disso? O Sport devolveu o placar, longe da atenção do Brasil que nesse dia ligava a TV para ver a final no Maracanã. Ninguém sequer viu essa partida. E o esdrúxulo regulamento ainda ignorava o saldo de gols que o time de Pernambuco teria por vencer o segundo jogo em 3x0. Foram os dois para os pênaltis.
Saiu o campeão? Não. Um empate. De tão medíocre o torneio, saiu um empate. 11 a 11 e assim ficou. A CBF não conseguiu tirar um campeão de uma disputa de pênalti.
A CBF insistia no confronto, mas nenhum clube do Brasil a levava a sério. O país já pensava no Natal e a empresa do Nabi então recolocou os times que não souberam definir os pênaltis, para jogar de novo. Dessa vez, deu Sport, não mais era treinado por Émerson Leão, este que ainda hoje tenta levar os louros por algo que não ganhou.
E Flamengo e Internacional já estavam, a essa altura, pensando no futuro. Seus times nem eram mais os mesmo. Qualquer uma das duas equipes que quisessem enfrentar o Sport ou o Guarani, trucidaria os rivais. Pra que? Para se enfrentar de novo em uma final já realizada? Para ganhar uma vaga na Libertadores e depois de cantar a moralidade, retroceder em prol de Nabi Abi Chedid?
Do time do Flamengo, nada menos do que 10 jogadores passaram pela Seleção, muitos com glórias cantadas até hoje. O goleiro do Internacional foi o nosso herói do tetracampeonato. Sabe quanto o Sport colocou na Seleção? Nenhum. Zero. Nada.
Mas o Flamengo fez o certo e entendeu por bem se contentar com o reconhecimento do povo, ignorando solenemente a opinião de Otávio e Nabi sobre o assunto. O Flamengo sabe que ser campeão não é ter o nome num livro vagabundo e empoeirado no porão da CBF, ou uma vaga num campeonato que, à época, não despertava 50% do tesão dos dias de hoje. Ser campeão não é ceder à pressão de homens que não honram as calças que vestem. Ser campeão é ter alma de campeão, é sentir-se campeão. É saber que venceu os melhores quando foi necessário. É comemorar, num estádio lotado, contra uma equipe igualmente grande em tradição e história, sabendo que o país parou para vê-los jogar, como sempre foi nas finais dos brasileiros ao longo dos anos. Até quando Atletico Paranaense e São Caetano se enfrentaram. Até mesmo quando Bangú e Coritiba decidiram em 1985 num Maracanã lotado. O país parou e a torcida do Flamengo deixou o Maracanã com a íntima convicção de que era a campeã brasileira.
Quem prefere acreditar no engodo da CBF, deve ter chorado na abertura das CPIs. Deve ter votado em Eurico, Perrela e acha Ives Mendes o homem mais sério do mundo. Deve bater palmas para o acordo Nike-CBF. Eu não me importo. Eu apresento argumentos e tudo está documentado. Os outros preferem acreditar no que diz a Casa Bandida do Futebol (designação tão perfeita, que seu criador ganhou na Justiça o direito de usá-la ad eternum). pegam dados perdidos num livro empoeirado escondido nos porões da CBF. As duas taças estão na Gávea. Uma entregue no dia da final. A outra, repassada à Zico na ocasião de sua despedida. Eu continuarei gritando PENTACAMPEÃO.